PAIXÃO NOS PALCOS » Três espetáculos teatrais contam a história de Cristo a partir desta quinta em São Luís

Cena da Via-Sacra apresentada pelo grupo Grita em 2013

Atendendo ao pedido do povo, dos sacerdotes e guardas, o então governante da província da Judéia Pôncio Pilatos lavou as mãos e entregou Jesus Nazareno à crucificação. A partir desse ato, relatado nas Escrituras bíblicas, tem início o percurso de intenso sofrimento por que passou o condenado à cruz, cuja missão era salvar a humanidade. O episódio é revivido a cada ano, na passagem da Semana Santa, quando se relembra a conhecida Paixão de Cristo nos rituais religiosos e peças teatrais em todo o mundocristão, e O Imparcial traz um roteiro das principais encenações da Via-Sacra que ocorrem este ano em São Luís.

Certamente, a montagem mais grandiosa, tanto pelo tempo de realização – que em 2014 chega à 33ª edição – quanto pelo número de pessoas (mais de 800) diretamente envolvidas nas atuações eexpectativa de público (200 mil pessoas a cada noite), é a Via-Sacra encenada pelo Grupo Independente de Teatro Amador (Grita), nas ruas do bairro Anjo da Guarda. Este ano, o tema do espetáculo será “UmaVida por Nós”, com apresentação nesta quinta-feira (17) e reapresentação na sexta-feira Santa (18).

Com direção geral de Cláudio Silva, a abertura do primeiro ato ocorre na Praça Recanto da Paixão, às 18h, e as demais partes da peça evoluem pelos cenários erguidos em outras vias da região, até o ato final na Praça da Ressurreição, onde se dão as cenas de maior dramaticidade, como a tortura infringida a Maria, a pregação de Jesus na cruz, sua morte e ressurreição. Este ano, o Grupo apresentará um balé infantil formado por 200 crianças caracterizadas como anjos.

Além da atração dos anjinhos, os organizadores da Via-Sacra destacaram a apresentação de um corpo de baile composto por 33 dançarinos representando as edições do evento, ao som de uma música de autoria de Josias Sobrinho, composta em homenagem à tradicional encenação do Grupo Grita. Outra novidade da montagem será durante a passagem de Jesus, carregando a cruz, no chamado Corredor da Reflexão (Rua Palestina), quando o enredo faz referência ao tema da Campanha da Fraternidade de 2014, que propõe um debate sobre o tráfico de pessoas.

Cohatrac
O lema da Campanha da Fraternidade deste ano também é evocado na Via Sacra apresentada pelo grupo de teatro Contracenando para Cristo, da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, no bairro Cohatrac. Montada há 18 anos, a peça será exibida na praça em frente à Igreja católica, na quarta-feira (16) e Sexta-Feira Santa (18), a partir das 19h.

De acordo com o coordenador do grupo teatral, Leonel Viegas, cerca de 200 pessoas atuam na encenação, dentre o elenco central (50), figurantes representando as pessoas do povo (100) e um conjunto de 50 crianças com roupas de anjos. O coordenador informou que, apesar de o enredo ser o mesmo nos dois dias de encenação, algumas passagens cênicas serão apresentadas apenas na Sexta-Feira Santa, como a menção ao tráfico humano e de drogas na passagem das tentações de Satanás, enfrentadas por Jesus durante o retiro no deserto.

Encenada nos limites do espaço da praça, a peça do grupo Contracenando para Cristo, cujo tema é “Até aqui nos ajudou o Senhor”, lança mão de recursos cenográficos distribuídos em diferentes pontos do local, de forma que as cenas não aconteçam no mesmo ambiente. “Através da arte, a Via Sacra mostra os passos de Jesus na terra”, disse Leonel Viegas.

Paixão, segundo nós: a montagem destaca uma reflexão de natureza poética e política

Palco
Por ter entregado Jesus à crucificação, Pôncio Pilatos amarga o arrependimento. A partir dessa ótica, a Companhia Oficina de Teatro (Coteatro) concebeu a montagem de Paixão, segundo nós, que será apresentada de hoje a domingo (20), no Teatro João do Vale. A direção do espetáculo é de Tácito Borralho, também autor do texto livremente adaptado de trechos dos Evangelhos Apócrifos e do Evangelho segundo Mateus, assim como do livro Jesus, o Filho do Homem, do escritor libanês Gibran Khalil Gibran.

Justamente por centrar-se nas reflexões de Pilatos, a peça inova ao não trazer Jesus (vivido por Luís Ferrara) como personagem protagonista. Segundo Tácito Borralho, a primeiraencenação de Paixão, segundo nós foi em 1972, e desde então, com períodos de interrupção, o espetáculo vem sendo apresentado em igrejas e no teatro. O diretor esclareceu que a montagem atual resulta de um patrocínio da Companhia Energética do Maranhão (Cemar), através da lei estadual de incentivos fiscais voltada à produção cultural maranhense.

Quanto ao teor da peça, Tácito Borralho considerou que se trata de uma reflexão de natureza poética e política, acerca da traição e do discurso contido nas tentações de Satanás. Ainda de acordo com o diretor, a nudez física de Jesus representa o despimento de ideias preconceituosas disseminadas socialmente.

Campanha
Apesar dos preços subsidiados dos ingressos, nos cinco dias de exibição de Paixão, segundo nós, serão distribuídos 90 ingressos uma hora antes do início da peça, em troca de alimentos não perecíveis. Os produtos serão arrecadados em prol da entidade Sonho de Criança do bairro Fé em Deus, que trata de crianças portadoras do vírus HIV.