Dez meses de
racionamento de água. Essa foi a realidade enfrentada pelos moradores de Itu,
no interior de São Paulo, durante 2014. De fevereiro a dezembro, em meio a
reclamações, protestos e à chegada de caminhões-pipa com escolta contra saques,
as torneiras das casas passaram por períodos de seca.
O
racionamento de água em Itu durou de 5 de fevereiro a 5 de dezembro de 2014,
sendo a pior seca da cidade em mais de 100 anos, segundo a concessionária
responsável, a Águas de Itu.
Na fase mais
aguda da crise, em outubro, a bacia Taquaral/Fubaleiro, uma das principais
reservas de água da região, ficou com apenas 1% da capacidade. Já a represa do
Santo Antonio (parte da Bacia Hidrográfica do Gomes) operou com 2%. De modo
geral, o abastecimento na cidade está normalizado, afirma a concessionária.
"Durante
o período de seca, ficamos exatamente três meses e quatro dias sem nenhuma gota
de água em casa. Por isso, compramos um reservatório de 500 litros, um de 310
litros e um de 200 litros, mangueiras e uma bomba. Íamos buscar água em uma
bica durante a madrugada a cada dois ou três dias e armazenávamos nessas
caixas. Na maior, instalamos a bomba, que mandava água para a caixa d'água da
casa, em cima do telhado. Fora isso, reutilizávamos a água da máquina de lavar
roupas para lavar tapetes e o quintal. A água dos banhos ficava em baldes no
banheiro para servir de descarga. Quando finalmente choveu, meu marido adaptou
as calhas para que a água da chuva também caísse dentro de uma caixa".
"Comprei
três caixas d'água - uma de 350 litros, uma de 500 litros e outra de 1.000
litros. As de 500 e de 1.000 ficaram em casa. Já a de 350 litros eu deixei no
porta-malas do carro e comecei a buscar água em um poço artesiano a 11 Km de
casa. Cheguei a passar madrugadas inteiras na fila, porque era uma única
torneira para encher caixas enormes que o pessoal levava. Quando eu chegava em
casa, passava a água para a cisterna, que distribuía para o resto da casa.
Passamos a
usar apenas um dos banheiros da casa. Abríamos o chuveiro e, enquanto a água
não esquentava, deixávamos uma bacia embaixo para não desperdiçar a água fria.
Depois, tomávamos banho dentro da bacia, para não desperdiçar nem a água do
banho, porque essa água seria a nossa 'descarga'. Cheguei a usar a 'reciclada
da reciclada', porque dei banho na minha filha, que é criança e quase não se
suja, e depois tomei banho com a água que ela já tinha usado. Depois, essa
mesma água serviu para dar descarga ou para lavar o quintal".
"Mesmo
antes de acabar de vez, a água não chegava com força para subir até a caixa
d'água da academia. Por isso, comprei uma caixa de 1.000 litros, outra de 5.000
litros e coloquei no chão do estacionamento. Mandei instalar um aparelho que
bombeava a água por mangueiras até chegar à caixa d'água no telhado. Foram
usados mais de 300 metros de mangueiras, e todo esse sistema ficou em cerca de
R$ 10 mil. Também chegamos a comprar 5 mil litros de água. Parece bastante, mas
isso, numa academia, se gasta em um dia. Acabamos deixando apenas um chuveiro
em cada vestiário - assim, a própria fila "pressionava" os alunos
para que o banho fosse mais rápido".
Também criei
um chuveirinho para lavar a louça de forma mais econômica. Cortei só a parte de
cima de uma garrafa pet, fiz furinhos na tampa e pendurei de cabeça para baixo
no puxador do armário da cozinha, que fica logo acima e na mesma direção da
pia. Quando eu lavava a louça com caneca, gastava mais água. Por exemplo: para
lavar um copo, usava duas canecas de água. Depois que fiz o chuveirinho, jogava
uma caneca de água dentro dele e conseguia lavar dois copos, porque a água saía
aos poucos e eu podia usar as duas mãos exclusivamente para manusear o copo.
Agora, instalei torneiras com redutor de pressão para continuar
economizando".
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