Preto Kedé é imobilizado por policiais militares |
Os rappers Pedro Kedé e Lu foram detidos na tarde de domingo (25) no bairro Parque Piauí, na zona Sul de Teresina. Os dois filmavam cenas para o novo clipe da Irmandade, grupo de rap formado por jovens das vilas Santa Cruz e São José, quando foram abordados, agredidos e conduzidos à Central de Flagrantes por quatro militares. Inconformados, os músicos devem entrar na Justiça contra os policiais.
O caso ganhou repercussão após o jornalista Renato Bezerra, que acompanhava os dois rappers, relatar o ocorrido em seu perfil no Facebook. "Gravava algumas imagens para um novo clip da Irmandade quando nos deparamos com uma equipe de policiais fazendo uma abordagem. No meu direito de jornalista, tentei fazer imagens da abordagem. Só que os policiais não gostaram e fizeram um verdadeiro filme, apontado pistolas e metralhadores para minha cabeça e dos garotos que fazem parte do grupo de rap. Bateram nos rapazes, simplesmente porque um deles disse que ali todos eram trabalhadores", detalhou.
Segundo Renato Bezerra, os policiais militares revistaram seu carro, tomaram sua câmera, algemaram os dois rappers e os conduziram no portal-malas da viatura para a Central de Flagrantes. "No caminho, apagaram as imagens e registraram um TCO por desacato. Fui a Central, peguei meu equipamento de volta e os garotos foram liberados. Isso durou mais de quatro horas", contou.
Um dos rappers detidos, Preto Kedé lamentou a ocorrência. "Não respeitaram nosso jornalismo. Eles trataram a gente como se fôssemos bandidos. Quando fui pegar meu celular, deram um tapa nas minhas costas, me pegaram pelo celular, me deram uma rasteira, me algemaram, me jogaram no bagageiro e me deram mais três tapas. Um deles ainda falou 'Eu te conheço, sei da tua fama, do Fábio Abreu'. Não tinha nada a ver ele falar isso. Nós somos artistas, fazemos música".
A música a que se refere Pedro Kedé é um rap de protesto composto em 2013, que cita o ex-subcomandante do RONE, Fábio Abreu, e que foi interpretado como uma ameaça por parte dos militares. Para o rapper, a música e a abordagem feita no domingo têm justificativas. "Tudo tem motivo. Só ser preto já é motivo. Só se vestir dessa forma é motivo. Nós sempre falamos mesmo. Já cansamos de tanta repressão", disse por telefone ao Cidadeverde.com.
Inconformados, os dois rappers devem acionar ainda essa semana a Corregedoria da Polícia Militar. "Ficamos quatro horas dentro de uma cela na Central de Flagrantes. Vamos à Corregedoria. Tem gente que filmou a abordagem deles. Daqui para quinta-feira a gente entra em contato com a Corregedoria", garantiu.
Igualmente insatisfeito, o jornalista Renato Bezerra revelou que chorou por causa de tudo que viveu no último domingo. "Depois um deles veio me pedir desculpas. Chorei... não por mim, mas por tantos que sofrem todos os dias porque são pretos e moram na favela. Mas não vai ser isso que vai nos intimidar. Vamos continuar organizando o grupo e os jovens vão continuar compondo e cantando o rap que incomoda esta sociedade que se acovarda para esses desmandos. Não somos contra a polícia. Somos contra a forma como eles abordam os cidadãos. Os bandidos nos tratam de forma violenta e quem poderia nos garantir segurança não nos respeita. Imagine: Como quatro pessoas, que tinham apenas uma câmera na mão, iam desacatar quatro policiais armados?".
Flávio Meireles
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