Quem
deixar o dinheiro parado na caderneta de poupança contabilizará um rendimento
tão baixo ao fim do ano que não será capaz de ganhar nem mesmo da inflação
acelerada de 2015. Enquanto os preços, na média, devem subir 9,29% em 2015, segundo
estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na última
Pesquisa Focus do Banco Central, a poupança terá um retorno de 8,06%, o que
implicará uma perda real de 1,14% em 2015, segundo cálculos da Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
Esta será
a primeira perda real da tradicional caderneta da poupança desde 2002, quando a
diferença ficou em -3,27%.
Na
prática, isso significa um recuo do poder de compra do brasileiro. “O que você
compra hoje por um valor, daqui um ano custará mais caro. Diminuir o poder de
compra significa que, se você tiver no futuro a mesma quantia de hoje, já não
vai conseguir comprar esse produto”, explica Olivia Paganini, da Guide
Investimentos.
Para a
gerente de investimentos da Guide, o fato de a caderneta ainda ser a aplicação
mais popular do brasileiro reflete um pouco a situação de comodidade. Apesar de
os bancos não terem em geral um grande incentivo ao investimento em poupança, a
caderneta é uma das aplicações mais antigas no Brasil e tem a facilidade de ser
atrelada, muitas vezes em débito automático, à conta corrente.
Pesa
também na escolha dos investidores mais conservadores a ideia de segurança
passada pela poupança. O Fundo Garantidor de Crédito (FGC) cobre quantias de
até R$ 250 mil caso o banco decrete falência. “Há uma falsa impressão de que
ela é um investimento sem risco. Há, por exemplo, o ‘risco de liquidez’, pois,
apesar de o investidor poder sacar o dinheiro diariamente, o rendimento não é
diário”, lembra o diretor da corretora Easynvest, Amerson Magalhães.
Somente no
aniversário do depósito, a cada mês, a caderneta contabiliza o retorno. Se o
saque for feito com 28 dias e não 30, por exemplo, o dinheiro não renderá nada.
De acordo
com o gestor de fundos de diversificação e de mercados emergentes da Rio Bravo
Investimentos, Eduardo Levy, a poupança deixou de ser interessante há alguns
anos. “Historicamente, de cinco anos pra cá, a poupança não é a melhor
alternativa para o investidor brasileiro, mesmo para o pequeno e médio”,
avalia.
A
aceleração da inflação desde o ano passado acendeu o sinal vermelho de alerta
no Banco Central que, para contar a alta de preços, elevou o juro básico da
economia (Selic). A alta da taxa tem um pequeno impacto no rendimento da
poupança, já que esta leva em conta no cálculo o rendimento dos Certificados de
Depósito Bancário (CDBs). A rentabilidade de fato melhorou em um ano: entre
janeiro e agosto, a caderneta rendeu 5,09% neste ano contra 4,6% no mesmo
período de 2014. A influência, porém, é tão marginal que não chega a ser
suficiente para acompanhar o juro e bater a inflação.
De oito
meses já fechados neste ano, a poupança perdeu para a inflação em seis deles.
No acumulado do ano até agosto, a perda real é de 1,69%. Não à toa, na
diferença entre saques e depósitos, a caderneta já perde R$ 48,5 bilhões em
2015, o maior valor em 20 anos.
Segundo
especialistas, parte dos saques se deve ao aumento do custo de vida, o que faz
o brasileiro resgatar investimentos para fechar o orçamento no fim do mês, mas
o movimento também é impactado pela percepção do baixo retorno. “A situação
econômica influencia, mas um dos motivos para a retirada de dinheiro também é a
rentabilidade abaixo da inflação”, avalia Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor
de Estudos Econômicos da Anefac.
Segundo
Olivia, da Guide Investimentos, ainda que o rendimento seja baixo, a caderneta
pode servir para o dinheiro de emergência, para fechar o mês, ou mesmo para
investidores com uma quantia muito pequena, abaixo de R$ 1 mil. Para alguns
especialistas, no entanto, mesmo no curto prazo há alternativas mais
interessantes.
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