Astro da
Seleção Brasileira e do Barcelona, Neymar não foi o único jogador de futebol a
cair nas garras da Receita Federal. Pelo menos 89 atletas de alto rendimento
foram autuados por sonegação de impostos entre 2012 e 2015. Dados exclusivos,
obtidos pelo Correio, apontam que oLeão está cobrando
R$ 318,6
milhões dos desportistas em multas e agravos. Desse total, 59,2% se referem à
sonegação do craque que despontou no Santos. Não é possível saber quais são os
clubes, os nomes e as modalidades praticadas pelos autuados, pois todos gozam
de sigilo fiscal.
O
subsecretário de Fiscalização da Receita Federal, Iágaro Jung Martins, explica
que, para evitar uma tributação de 27,5% deImposto sobre a Renda da Pessoa
Física (IRPF), em geral, os atletas constituem uma empresa e transferem os
direitos de imagem e parte do salário para ela. Com isso, a alíquota a ser
recolhida aos cofres públicos despenca para 13,53%, alíquota que engloba
Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica
(IRPJ) e a
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), além doPIS e da Cofins. No
entendimento de Martins, esse esquema constitui uma fraude.
Ele
detalha que, no caso de Neymar, o desembargador Carlos Muta, do Tribunal
Regional Federal (TRF) da 3ª Região, manteve em segredo de Justiça os documentos
que estão nos autos do processo, mas tornou pública a decisão que determinou o
bloqueio de R$ 188,8 milhões em bens do jogador, dos pais dele, Neymar Santos e
Nadine, e de três empresas da família, a Neymar Sport e Marketing, a N & N
Consultoria Esportiva e Empresarial e a N & N Administração de Bens
Participações e Investimentos.
Denúncia
Esse valor
corresponde a uma autuação por sonegação e lavagem de dinheiro de R$ 66
milhões, mais agravo de 150% do valor da multa aplicada porque a Receita
entendeu que houve dolo, fraude e simulação de operações para tentar enganar o
Fisco. Segundo o subsecretário, o pedido de indisponibilidade do patrimônio do
astro da Seleção Brasileira, revelado com exclusividade ontem pelo Correio,
ocorreu para que não houvesse risco de dilapidação e de prejuízos aos cofres
públicos.
Os
técnicos da Receita entenderam que o risco de calote era grande porque pessoas
ligadas a Neymar já haviam sido autuadas antes peloLeão, ao qual devem.
R$ 4,6
milhões. O processo do jogador do Barcelona ainda poderá ser discutido
administrativamente no Fisco. Se todos os argumentos da defesa forem refutados
pelos servidores, o caso ainda poderá ser submetido ao Conselho Administrativo
de Recursos Fiscais (Carf).
Caso o
colegiado ratifique o entendimento dos auditores, a Receita poderá encaminhar
ao Ministério Público Federal (MPF) uma Representação Fiscal para Fins Penais
(RFFP), para que o órgão faça uma investigação e, se achar adequado, ofereça
denúncia à Justiça. O subsecretário de Fiscalização explica que a legislação
vigente determina que, se o débito for quitado por Neymar e por sua família, a
representação não poderá ser enviada ao MPF. “Isso é possível porque a lei é
fraca. Em qualquer país sério, isso não ocorreria. A Justiça é mais rigorosa
com quem rouba um quilo de carne, se arrepende e devolve o alimento do que com
quem sonegou milhões”, diz.
Efeito
educativo
Na
avaliação de Martins, casos como o de Neymar mostram que sonegar impostos não é
bom negócio. “Estamos falando de um entre vários casos apurados pela Receita.
Somente no primeiro semestre deste ano, lavramos multas totalizando R$ 75,1
bilhões”, comenta. Ele afirma que as investigações sobre o astro do Barcelona
começaram em maio do ano passado, um mês antes do início da Copa do Mundo, após
a área técnica detectar movimentações financeiras atípicas do jogador e das
empresas da família dele. Estão sob suspeitas as declarações de renda feitas
entre 2011 e 2013.
Os
impostos cobrados pela Receita pegam o período em que Neymar ainda jogava pelo
Santos e a transferência dele para o Barcelona. Pelas investigações do Fisco, o
jogador alegava que 90% do que recebia do clube paulista se referiam a direitos
de imagem. Os recursos eram destinados a uma das empresas dos pais do atleta, a
N & N Consultoria Esportiva, recebendo tributação diferenciada. No caso do
Barcelona, a Receita constatou que houve uma simulação de empréstimo para
driblar o Leão. Como Neymar ainda tinha contrato de exclusividade com o Santos,
mas já havia uma negociação com o clube espanhol, foi acertado que ele
receberia adiantamento de 10 milhões de euros (hoje, R$ 44,5 milhões) como
direito de preferência pelo passe.
Martins
ressalta Neymar e os demais atletas sob investigação caíram nas garras de um
grupo especial de 2,8 mil auditores que se dedicam ao trabalho de monitoramento
em todo o país. No total, a Receita conta com 10 mil auditores, número longe do
ideal. Apenas na área que ele comanda são 4,1 mil servidores. “Temos 400
auditores que fazem um trabalho prévio com cruzamentos de dados, e são eles que
apontam quais são os casos em que há indícios de irregularidades”, detalha.
O caso
Neymar foi vital para que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciasse, no
fim de agosto, a edição de uma medida provisória que aumentou, de 32% para
100%, a base de cálculo para a incidência do Imposto de Renda e da Contribuição
Social sobre Lucro Líquido (CSLL) no caso de receitas oriundas dos direitos de
imagem. A expectativa da Receita Federal é arrecadar R$ 615 milhões em 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário