Em tempos de crise e de crédito mais
escasso, pedir o nome emprestado para realizar compras é a saída que
muitos brasileiros encontram para não deixar de consumir. Um
levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e
pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as
capitais revela que essa prática não é incomum no país. Em cada dez
brasileiros, quatro (44%) já pediram o nome emprestado a outras
pessoas para fazer compras a crédito – principalmente as pessoas das
classes C, D e E (48%) e as mulheres (49%). Os que disseram nunca terem
lançado mão dessa atitude somam 56% dos entrevistados.
De acordo com o estudo, a prática é utilizada, principalmente, pelos
consumidores que passaram por situações de emergência e não contam com
uma reserva financeira (27%) ou pelos que estão com o nome inscrito em
cadastros de devedores (22%). Outras razões ainda mencionadas são o
crédito negado (16%) e o limite estourado do cartão de crédito (13%).
A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, explica que ao
assumir a dívida de terceiros a pessoa passa a responder por todas as
consequências financeiras e jurídicas da situação, caso o tomador do
nome emprestado não consiga honrar o compromisso assumido. “A
responsabilidade sobre a dívida é sempre do titular daquela pendência
financeira. Ajudar alguém em situação de necessidade é uma atitude
correta, mas emprestar os documentos ou dinheiro para alguém que vive
dificuldades pode ser arriscado. O maior perigo é ter o próprio CPF
negativado caso o devedor não cumpra o acordo. Dizer ‘não’ pode até
abalar a amizade, mas se a pessoa diz ‘sim’ sem pensar nas consequências
do ato, corre o risco de perder não somente o amigo, mas também
dinheiro e ficar com o nome sujo”, alerta a economista.
Pais, cônjuges e familiares são os mais procurados na hora de pedir o
nome emprestado; 30% não usaram qualquer argumento para convencer a
pessoa solicitada.
Uma das constatações da pesquisa é que a proximidade da relação acaba
sendo um dos fatores que contribuem para estimular esse tipo de
prática. De acordo com a pesquisa, as pessoas às quais os
entrevistados mais recorreram em busca de ajuda financeira foram os pais
(29%), cônjuges (24%), familiares (21%), amigos (18%), irmãos (18%),
namorados (6%) e até mesmo colegas de trabalho (5%).
Segundo o levantamento, dos que pediram o nome emprestado, 30% não
usaram qualquer argumento para convencer a pessoa solicitada sobre a
razão do pedido e 6% nem mesmo avisaram ao dono do documento o valor que
seria gasto na compra. Além disso, em 82% dos casos, os entrevistados
não sofreram qualquer dificuldade nas lojas em realizar compras com
documentos que não eram seus.
Um dado curioso é que, embora tenham sido beneficiados pela ajuda de
outra pessoa,48% desses entrevistados reconhecem que não teriam a mesma
atitude e, portanto, não emprestariam seu nome ou documentos para que
outras pessoas realizassem compras. Dos que pediram o nome emprestado,
64% consideraram o pedido fácil de ser atendido.
Eletrônicos e roupas são os produtos mais adquiridos com documentos
de terceiros; em 33% dos casos, cartão de crédito foi a modalidade
utilizada.
A pesquisa mostra que, na maior parte dos casos, os pedidos de
empréstimo de nome serviram para o consumidor adquirir produtos que nem
sempre estão ligados à necessidade de primeira ordem. Em primeiro lugar
do ranking, por exemplo, estão eletrônicos, como smartphones, TVs e
notebook, com 28% de citações. Em segundo lugar surge a aquisição de
roupas, calçados e acessórios, com 25% de menções. Outros itens que os
entrevistados compraram por intermédio de terceiros foram produtos de
supermercados (23%), eletrodomésticos (19%), produtos de farmácia (15%) e
móveis para a casa (11%).
“A lista mescla produtos que podem ser necessários em um momento de
dificuldade com outros que poderiam ser adquiridos quando houvesse
sobras no orçamento. Quem empresta o nome ou o documento precisa
entender a fundo as razões do pedido e quem faz a solicitação tem o
dever de ser transparente”, afirma o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli.
Outros detalhes revelados pelo levantamento é que o cartão de crédito
é o meio de pagamento mais solicitado (33%) pelos consumidores que
realizam compras em nome de outra pessoa – essa proporção aumenta para
36% nas classes de mais baixa renda e para 38% entre as mulheres. Em
seguida, aparecem crediário (12%), cheque (4%), empréstimos (3%) e
financiamento (3%) como as modalidades mais frequentes.
FONTE: Imprensa SPC Brasil
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